A indústria brasileira deveria abrir os olhos para o cânhamo
Coluna de Lorenzo Rolim
O avanço da regulamentação brasileira acerca da produção do cânhamo e da cannabis em nosso território avança aos solavancos.
Após vários anos de discussão e alguns esporádicos avanços que vieram por parte da Anvisa e suas RDCs, chegamos finalmente a um Projeto de Lei que traz alguma esperança para os brasileiros que conseguem enxergar o potencial do Cânhamo Industrial e da Cannabis Medicinal.
Porém agora enfrentamos um período difícil de tramitação do projeto na Câmara dos Deputados, enquanto aguarda seu envio para o Senado. Os mais otimistas acreditam em uma votação rápida e uma aprovação antes do final de 2021. A oposição vende a imagem de que o projeto nunca passará em nome da família tradicional e dos bons costumes. Os realistas sabem que ainda serão necessárias muitas idas e vindas, emendas, debates e pressões de distintos atores e setores da sociedade para que uma versão modificada do projeto tenha chance de virar de fato uma Lei.
Dentro dessa visão realista, ressalto a importância da participação e da pressão de alguns importantes setores da sociedade, que poderiam rapidamente fazer o Projeto de Lei avançar caso fossem expressados mais claramente.
Imaginemos que o setor de mineração expresse sua vontade de utilizar o cânhamo como uma planta para limpar o solo de áreas contaminadas, como as áreas afetadas pelo rompimento da barragem de Mariana em Minas Gerais. O potencial do cânhamo para esse uso já é fartamente documentado.
Imaginemos que o setor automotivo expresse sua vontade de utilizar o cânhamo para elaboração de peças de automóveis e revestimentos internos. O potencial do cânhamo para esse uso já é fartamente documentado.
Imaginemos que a indústria têxtil nacional expresse sua vontade de ter o cânhamo disponível como matéria prima junto ao algodão, o linho e as fibras sintéticas. O potencial do cânhamo para esse uso já é fartamente documentado e hoje é o maior uso do cânhamo mundialmente, principalmente na China e na Índia.
Imaginemos que a indústria de alimentos expresse sua vontade de utilizar a proteína e o azeite presente nos grãos para alimentação humana e animal, assim como é amplamente utilizado em quase todo mundo civilizado. O potencial do cânhamo para esse uso já é fartamente documentado.
Imaginemos que a indústria de papel e celulose expresse sua vontade de ter o cânhamo como uma matéria prima disponível para fabricação de papéis de alta qualidade além de oferecer uma opção de crescimento rápido, frente ao eucalipto que cresce em 5-7 anos. O potencial do cânhamo para esse uso já é fartamente documentado.
Imaginemos que a indústria moveleira expresse sua vontade de utilizar o cânhamo como matéria prima para produção de painéis de madeira utilizados para produção de diversos móveis. O potencial do cânhamo para esse uso já é fartamente documentado.
Imaginemos que a indústria de construção civil expresse sua vontade de produzir concreto com fibra de cânhamo para reduzir custos e emissões para tornar o setor mais sustentável e em linha com as exigências dos consumidores preocupados com o meio ambiente. O potencial do cânhamo para esse uso já é fartamente documentado.
Agora, você consegue imaginar se todos esses setores colaborassem para o avanço da regulamentação da produção do cânhamo? Você acredita que os deputados e senadores seriam pressionados para avançar o tema mais rapidamente?
Felizmente todos estes setores possuem uma coisa em comum: Você, o consumidor. O consumidor é o único ente capaz de pressionar todas essas indústrias a serem mais verdes e sustentáveis e apontar que o cânhamo é a matéria prima ideal para atingir todos esses objetivos e reduzir a pegada de carbono de qualquer uma delas.
Se nós, como consumidores, exigirmos isso das indústrias, elas por sua vez irão exigir de nossos representantes na Câmara e no Senado, e aí não tem mais volta.
Precisamos fazer a indústria brasileira abrir os olhos para o cânhamo.
Lorenzo Rolim é Engenheiro Agrônomo, presidente da LAIHA (Associação Latino-Americana de Cânhamo Industrial) e trabalha como Diretor de Desenvolvimento de Produção na TANGHO Green.
Fonte: Sechat