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Nearshoring & Indústria da moda

Hoje iniciaremos uma série de três artigos desenvolvidos em parceria com o Fashion Innovation Business (FIB), uma empresa de educação executiva focada na indústria da moda nacional e que já confirmou sua participação como expositora na 2ª edição do Febratex Summit

concebidos a partir do conhecimento empírico obtido em imersões de aprendizado organizadas pelo FIB em cadeias globais das principais marcas e varejistas de moda mundiais em destinos como Portugal, Espanha e Estados Unidos. Nesse primeiro artigo trataremos das novas configurações das cadeias globais de fornecimento da indústria da moda.

A ruptura de cadeias globais de fornecimento causada pela Covid-19 fez (e segue fazendo) com que vários setores da economia global revisitassem suas estratégias de supply chain, pois restou evidente que quanto mais distante de um determinado mercado consumidor e mais fragmentada for uma cadeia dessa natureza, menor é a sua resiliência em momentos de crises como pandemias, guerras e acirradas disputas comerciais entre superpotências econômicas, por exemplo.

É nesse contexto que ganhou força nos últimos 3 anos o conceito de nearshoring, uma expressão criada pela junção das palavras nearshore e outsourcing que, em síntese, trata-se de uma estratégia de fornecimento que prima por ter os elos da cadeia mais integrados e próximos possíveis dos mercados consumidores.

Em relação à indústria da moda global (têxtil e confecções), esse conceito significa, em maior ou menor grau, reduzir a dependência de empresas asiáticas como um todo (e chinesas em específico), dependência essa que se fortaleceu sobremaneira nas últimas duas décadas, com a ascensão de novos atores internacionais tais como Bangladesh, Paquistão, Tunísia, Marrocos, Egito e etc.

Embora a força desse redesenho das cadeias globais varie bastante em função das composições de fios e tecidos e da intensidade de mão-de-obra demandada na confecção de artigos acabados, podemos dizer que há claramente um movimento oposto ao observado nas duas últimas décadas em relação às políticas de sourcing de grandes marcas e varejistas da indústria da moda, o que nos remete à dinâmica da evolução do comércio internacional de artigos têxteis e de vestuário.

Antes da criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em janeiro de 1995, o comércio internacional de têxteis e vestuário era regido pelo Acordo Multifibras (AMF) que previa restrições à importação de produtos que pudessem causar sérios danos para a indústria do país importador. Baseado em um regime complexo de acordos bilaterais entre os maiores importadores e exportadores desses produtos, o AMF vigorou de 1974 a 1994 e, na prática, protegia as indústrias têxteis e de confecção dos países do ocidente da competição asiática.

Com a criação da OMC em janeiro de 1995, o AMF foi substituído pelo Acordo sobre Têxteis e Vestuário (ATV), um processo de transição para a livre concorrência que durou 10 anos. Dessa forma, partir de 2005 todas as proteções existentes foram eliminadas e o comércio internacional dos artigos têxteis e de confecções passou a seguir as regras gerais da OMC.

Embora esse seja um marco histórico nessa indústria, com severos impactos imediatos negativos para as indústrias têxteis e de confecção ocidentais, esse cenário teve início alguns anos antes, em 2001, com a entrada da China na OMC em 2001. O que se viu desde então foi uma “debandada” das indústrias têxteis e de confecções para a China, inicialmente, e depois para os demais países citados anteriormente e ainda outros não citados aqui. Em comum, esse deslocamento massivo buscava notadamente a redução do custo da mão-de-obra e se baseava em uma complexa cadeia logística que garantia o fluxo constante (tanto de produtos acabados como de matérias-primas) entre ocidente e orientes, sendo que essa complexa teia logística foi exatamente um dos elos mais severamente atingidos com o auge da pandemia de Covid 19.

Nesse período de “corrida ao leste”, observamos alguns raros movimentos em sentido contrário, associados majoritariamente ao modelo de negócio conhecido como Fast Fashion, em especial em função da ascensão do Grupo Inditex como maior varejista de moda do mundo. Como sua estratégia de negócios pressupõe um fluxo constante de produtos com informação de moda chegando às lojas, a dona da marca Zara passou a priorizar a rapidez com que seus fornecedores eram capazes de entregarem esses produtos em seu Centro de Distribuição (CD) em Arteixo, na região da Galicia, noroeste da Espanha. Isso fez com que a Indústria Têxtil e de Vestuário de Portugal (ITV) renascesse, pois foi esse o país que por cerca de duas décadas foi o maior fornecedor das marcas da Inditex, se aproveitando como ninguém do crescimento da gigante da moda espanhola e de sua proximidade física com o CD de Arteixo.

No entanto, mesmo dentro do contexto da Inditex, a empresa seguiu comprando produtos tidos como básicos na Ásia, concentrando as encomendas em Portugal de artigos com maior informação de moda e que, dessa forma, são mais susceptíveis a mudanças repentinas de modelos e volumes. A participação de empresas portuguesas na cadeia de fornecimento da Inditex hoje é direcionada principalmente à indústria têxtil (malhas circulares, em especial), pois em termos de confecção, Marrocos e Turquia são hoje seus principais fornecedores, o que ainda pode ser considerado um fornecimento de proximidade, em comparação com as distâncias dos países asiáticos.

Em compensação, Portugal atende hoje as principais marcas de médio a alto luxo europeias, movimento esse que se consolidou nos últimos três anos, já justamente no contexto do nearshoring (trataremos especificamente do caso de Portugal em um outro artigo). Um outro exemplo desse fenômeno pode ser observado com marcas e varejistas de moda dos EUA que nos dois últimos anos vem aumentando a quantidade de itens comprados da américa central em detrimento à China (nesse caso, com explicito apoio governamental, expresso pela assinatura de um acordo de livre comércio entre os EUA e países dessa região).

Embora essa busca por aproximar a produção do consumo tenha ganho força recentemente pela fragilidade das configurações globais (tecidos comprados da China, cortados e costurados em Bangladesch e produtos finais comercializados nos EUA, por exemplo), há que se destacar também a pressão pela adoção de melhores práticas de sustentabilidade e maior transparência e rastreabilidade como fatores de indução dessa mudança pois, teoricamente, é mais fácil e barato controlar esses requisitos com as empresas fornecedoras mais próximas das sedes das empresas âncoras. Nesse quesito, Portugal, uma vez mais, vem se destacando como parceiro global de marcas em busca de sourcing alinhado com melhores práticas socioambientais.

Em verdade, há muito que a literatura especializada em SCM (Supply Chain Management) vem apontando as fraquezas associadas a cadeias distribuídas globalmente, mas foi somente após a pandemia da Covid 19 que o movimento de nearshoring ganhou força, sendo que de acordo com pesquisa realizada pela McKinsey & Company em novembro de 2022, 71% dos diretores de compras pesquisados planejam aumentar sua participação no nearshoring até 2025, com 24% considerando produzir localmente nos mercados em que operam.

Embora ainda existam muitas questões no ar quanto a esse movimento, já é possível dizer que veremos um redesenho das cadeias globais nas próximas duas décadas o que pode, em teoria, abrir novos horizontes para a indústria têxtil e de confecções brasileira.

Quer saber mais sobre como importantes cadeias de fornecimento nacionais e globais estão se reorganizando atualmente? Então acompanhe os dois próximos artigos, conheça e participe das imersões organizadas pelo FIB

MISSÃO FEITO NO BRASIL:  faça uma imersão no maior ecossistema de moda e Lifestyle do Brasil visitando a sede das Lojas Renner em Porto Alegre e alguns de seus principais fornecedores no polo têxtil e de confecções da região de Blumenau. Para maiores informações clique aqui

MISSÃO MADE IN PORTUGAL – TÊXTIL E CONFECÇÃO: aprenda na prática como a indústria da moda de Portugal sobreviveu a concorrência Asiática e fez do seu cluster têxtil e de confecção um dos mais inovadores ecossistemas de inovação do mundo da moda. Para maiores informações, clique aqui

Por Américo Guelere

FIB – Fashion Innovation Business

americo@fashoninnovationbusiness.com

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