Por que a moda está falando sobre agricultura regenerativa?
Marcas como a North Face, Allbirds e Patagonia, assim como o luxuoso grupo Kering, são voltadas para a agricultura hoje em dia
Moda, assim como a política, adoram palavras da moda – especialmente quando se trata de meio ambiente. Sustentabilidade! Circularidade! Elas estão na ponta da língua. E agora temos uma nova favorita na cidade: Regenerativa.
Em janeiro, o grupo de luxo Kering, donos da Gucci e Saint Laurent (entre outras marcas), se tornou o co-fundador do Regenerative Fund for Nature, que visa converter um milhão de hectares (2,47 milhões de acres) de terra usadas para produção de matéria-prima para a moda em uma fazenda registrada de agricultura regenerativa em cinco anos.
Em fevereiro, a New Zealand Merino Company anunciou que se juntou ao Allbirds, Icebreaker e Smartwool na criação da primeira plataforma dedicada à lã regenerativa.
A North Face e Patagonia agora vendem roupas feitas de algodão regenerativo. E a Secteur 6, a nova marca índia-americana que usa apenas materiais cultivados de forma regenerativa como tinta de pétalas de rosa, está se juntando com a marca streetwear Freak City L.A. para produzir uma coleção que inclui camisetas de algodão regenerativos com os dizeres: “Regenere ou morra”.
Mas o que isso significa?
Começando do início: O que é agricultura regenerativa?
É como Yoga, mas para fazendas. Defensores descrevem como uma abordagem holística, trabalhando com a natureza, ao invés de tentar controla-la. Isso significa renunciar a várias práticas da agricultura industrial, o que inclui pesticidas, fertilizantes comprados em lojas, cultivos terra de uma única safra. Além disso, sem arrancar ervas daninhas.
Agricultores regenerativos adoram “plantações cobertas”, plantas com aparência de ervas daninhas como o trevo e a ervilhaca – ervilhaca! – que ajudam a limitar as ervas daninhas reais e são eventualmente cortadas e deixadas para apodrecer como cobertura morta. (Arrancar colheitas de cobertura ou ervas daninhas pelas raízes perturba os microorganismos sob a superfície, e as raízes servem como alimento para o solo, de qualquer maneira.)
A ideia é misturar diferentes tipos de plantas no mesmo solo, permitindo que as plantas de cobertura nutritivas se espalhem sem controle, misturando-se com, digamos, milho ou algodão. Parece uma bagunça, mas galinhas, ovelhas e o gado começam a pastar e em troca fertilizam os campos com seu excremento. Bingo: Solo saudável.
Espera, eu pensei que agricultura orgânica deveria ser o melhor tipo de agricultura. Qual a diferença?
Orgânico é “sobre o que você não está pulverizando”, afirma Rebecca Burgess, diretora da Fibershed, uma ONG da Califórnia que apoia o movimento da agricultura regenerativa. Você pode ser um agricultor orgânico e não ser regenerativo – você pode não usar os animais, não usar a técnica de cultivo de cobertura invés disso arar a terra a cada estação.
E você pode ser regenerativo e não ser orgânico. Bambi Semroc, o ativista de terras e águas sustentáveis da Conservation International, afirmou que “orgânico é uma forma de fazer isso, mas existem outras formas também, como reduzir o uso de agrotóxicos”. Às vezes, ela diz, “não existem alternativas perfeitas”.
Então o que isso tem a ver com a moda?
Como diria James Carville: É a origem dos materiais, estúpido. Camisetas e jeans são feitas de algodão plantados no campo. Suéter de lã das ovelhas que pastam em um campo. Bolsas com couro de vacas criadas em uma fazenda. Mas que tipo de fazenda?
Agricultura industrial é um grande contribuinte para as mudanças climáticas. Nitrogênio liberado dos fertilizantes, que agricultores convencionais espalham pelos campos, “liberam gases que geram efeito estufa”, como o dióxido de carbono, diz Ms. Burgess. Para atingir a meta definida no Acordo de Paris – a mais importante é a redução de emissões para zero até 2050 – agricultores precisam parar com esse tipo de poluição e reduzir a quantidade de carbono que está no ar.
A abordagem mais eficaz é um processo sobre o qual todos nós aprendemos no ensino fundamental: fotossíntese. As plantas de cobertura naturalmente capturam ou “sequestram” o carbono da nossa atmosfera e armazena, através das raízes, na terra. O carbono nutre o solo e ajuda a reter a água; em troca, as plantas crescem melhor e há menor erosão no solo e seca (apesar de os cientistas ainda não terem certeza sobre quanto carbono exatamente pode ser armazenado no solo).
A moda está extremamente atrasada para a festa do sequestro do carbono – a indústria alimentícia que estava muito a frente – mas com várias marcas prometendo publicamente se tornar neutras em carbono, está agora fortemente comprometida. Antes tarde do que nunca.
Certo, eu entendo por que as marcas podem querer o direito de se gabar, mas o que há para os agricultores?
É verdade que a transação do convencional para a agricultura regenerativa é caro e requer tempo. Algumas marcas, como a Patagonia, preferem que os agricultores sejam orgânicos primeiro. As terras são elegíveis para a certificação orgânica em diversas organizações três anos após a última aplicação de materiais químicos proibidos, como fertilizantes e pesticidas. Os agricultores podem construir seu novo, sistema regenerativo.
As outras safras que cultivam junto com sua safra principal – talvez feijão, malmequer ou cúrcuma – podem fornecer uma fonte de renda adicional, mas as marcas perceberam que pode não ser um incentivo suficiente. É parcialmente por isso que Kering estabeleceu o Fundo Regenerativo para a Natureza, em conjunto com a Conservation International, uma ONG ambiental em Arlington, Va. O fundo, que é avaliado em 5 milhões de euros ($6,1 milhões de dólares), vai distribuir doações para agricultores e Ongs, e alcançar 17 países e quatro matérias-primas regularmente usadas na moda de luxo: algodão, lã, caxemira e couro.
Patagonia também está apoiado agricultores regenerativos de algodão com um programa piloto na Índia. O piloto iniciou em 2018 com 165 agricultores em 420 acres. Este ano, abrange 2.260 agricultores em 5.248 acres.
“É uma questão de mudanças no local”, disse Helen Crowley, chefe de compras sustentáveis e iniciativas naturais da Kering. Ou no chão, realmente.
FONTE: NY TIMES